Gênero Textual Anedota

Gênero Textual Anedota

Estavam no estúdio, em pé, os dois apresentadores do telejornal, Ana Paula Araújo e Chico Pinheiro, e seus interlocutores em São Paulo, Brasília e Londres, respectivamente Rodrigo Bocardi, Giuliana Morrone e Renato Machado. O motivo do humor foi um comentário feito pelo jornalista Rodrigo Bocardi a respeito da reportagem exibida há pouco no telejornal. À provocação do apresentador Chico Pinheiro sobre o susto que o marido daquela mulher deve ter tido ao saber do nascimento do décimo terceiro filho, Bocardi respondeu, em tom de brincadeira, que estaria com medo de ele mesmo estar grávido. Se o modelo teórico for aplicado à história ambientada no museu de Padre Cícero, vista anteriormente em (1), teríamos um script inicial relacionado à visita guiada ao museu ou a uma determinada localidade turística qualquer.

Informal, ela é comum a situações de fala bastante corriqueiras, do dia a dia, em que, uma vez mais, torna-se difícil seu registro para eventual análise. Uma saída para análise delas é a apropriação de piadas conversacionais produzidas em cenas arquivadas pela mídia e por ela (re)produzidas. Até este ponto, parece ter ficado claro que o termo piada é polissêmico e que a classificação entre as prontas e as conversacionais revela serem distintas as formas de produção do humor nos textos. Restaria entender teoricamente, como já dito, como seria o funcionamento das conversacionais e de que modo se daria o processamento textual que levaria ao sentido humorístico, um dos dois objetivos deste texto.

A expressão provoca risos na apresentadora, que passa a trabalhar de forma colaborativa com a primeira piada conversacional criada. Ela afirma que o marido não ficaria apenas doidinho, mas “doidinho treze vezes”, posto que o casal já havia tido outros doze filhos. Nas linhas dez e onze, Chico Pinheiro se vale desse diálogo inicial para introduzir a fala final piadas curtas de Rodrigo Bocardi – no encerramento do telejornal, há os destaques finais dos jornalistas mostrados no telão, cada um expondo fatos da região de onde fala(m). Entendemos que determinados momentos da atividade jornalística contemporânea têm se valido da reprodução de situações informais de fala para criar junto ao espectador/ouvinte um efeito de proximidade.

Qual é o conceito de piada?

Tópicos deste artigo

“O prazer deriva do reencontro de uma situação familiar, como estar em casa ou voltar à infância”, compara Possenti. “O adulto não brinca com as palavras tão freqüentemente quanto as crianças e os humoristas”. No nível da linguagem, há diversas complexidades morfológicas, ortográficas, sintáticas, que as crianças cometem por experimentarem com um código não completamente assimilado; quanto aos adultos, ocorrem por distração, brincadeira, ironia, agressividade. Não é à toa que, desde Aristóteles, outra característica considerada distintiva do humor é o rebaixamento. “Nesse caso, o riso brota de alguém que é feio, faz ou diz bobagens, tropeça, cai – um político que rouba, um filósofo que propaga incongruências”, explica Possenti. E à surpresa se acrescenta a genialidade, o talento que um indivíduo tem para forjar a relação surpreendente.

O caso selecionado – que é do telejornal Bom Dia Brasil, programa exibido diariamente pela TV Globo no começo da manhã – foi ao ar no dia 14 de maio de 2015. De acordo com Veras, Freud tentou, de início, compreender o chiste, como outros haviam tentado, mas se descobriu compreendido no próprio mecanismo do chiste, que exige o riso. Assim acreditava Freud, que acabou se vendo diante de um grande dilema.

Características da anedota

“Se ele teorizasse apenas, deixando de fora o riso, isto é, se o próprio Freud não risse, não teria um chiste e, portanto, não teria seu objeto de estudo”, pondera Veras. “Por outro lado, se risse, se envolveria eliminando a distância necessária à neutralidade característica da atitude científica”. Freud publicou O chiste e sua relação com o inconsciente em 1905, apenas cinco anos depois do seminal A interpretação dos sonhos. Uma anedota, assim como qualquer outra narrativa, é construída com base num enredo e apresentando um narrador, personagens e a passagem de tempo. A anedota é um texto narrativo e, sendo assim, ainda que de maneira limitada, apresenta personagem, tempo, espaço, enredo e foco narrativo.

No segundo turno (linhas dois e três), Chico Pinheiro comenta que o nascimento inesperado seria algo para “ficar doidinho”, expressão que sugere a presença de alguma dificuldade ou contratempo por conta de uma situação inesperada. O texto de (2) também teve mote humorístico, tanto que provocou risos da plateia que assistia presencialmente ao debate presidencial de 2014, exibido pela TV Bandeirantes na noite do dia 26 de agosto daquele ano. Ao contrário do caso anterior, a situação engraçada surgiu durante a interação entre os então candidatos Eduardo Jorge, do Partido Verde (PV), e a concorrente Marina Silva, do Partido Socialista Brasileiro (PSB). A anedota compõe o grupo de produções sociais denominadas gêneros textuais do cotidiano. A tabela abaixo ilustra os principais integrantes desse grupo, incluindo a anedota.

Norrick destaca também que o nível de familiaridade entre as pessoas que participam da conversação e o histórico existente entre elas (de uso regular de piadas) são elementos que ajudam a fomentar tais ocorrências (função metalingual). Em muitas delas, ressalta o pesquisador, chega-se a situações que ficam no limite da ofensa ou do sarcasmo. Uma vez mais, a proximidade e a informação de outros eventos semelhantes entre os envolvidos autorizariam a apropriação desses processos, mesmo que excessivamente jocosos, não raras vezes sobre os próprios falantes. Essas seriam algumas das marcas que trariam regularidade às piadas conversacionais. Pode-se dizer que a piada conversacional é fartamente percebida em conversas cotidianas.

Definição de Piada

Os gêneros textuais têm uma estrutura limitada e definida, logo, eles são bastante diversos. Os quais podem sofrer algumas modificações ao longo do tempo, devido as mudanças na forma de comunicação na sociedade. A anedota é um gênero textual do tipo narrativo que conta uma história, constrói expectativas e, no fim, quebra-as para causar humor.